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Cláudio Gil – O semeador Leônidas Sobriño Pôrto

O-Semeador

Para quem desfrutou do privilégio de conviver com Leônidas Sobrino Pôrto é difícil acreditar que êle partiu.

Perplexo diante da notícia e duvidando do fato, só usando de eufemismo: partiu. Ficou encantado, cativo em algum livro didáctico que tanto difundiu; ou alguma canção ou poema de Ruben Dario. Quem sabe, no poema “A lãs cinco en ponto de la tarde” de Garcia Lorca?

Uma coisa tenho como certa: êle avança firme e serenamente por sua estrada. E aqui não é eufemismo. Porque homens como aquêle não morrem. Morte sugere parada brusca, como o do seu grande, incomensurável coração; sugere fim, descanso eterno.

Em se tratando de Leônidas essas sugestões são absurdas, inexactas, simplistas e materiais. Leônidas não descansa nunca, porque mesmo em repouso caminha. Nunca distinguiu a noite do dia, na sua ânsia de semear.

Semear a verdade, a beleza e a justiça em cada sala de aula, em cada novo amigo.

Semear o amor em seus filhos, para reduzir a esterilidade das almas e a dureza dos corações que proliferam pelo mundo afora.

Semear a confiança e a alegria, onde só havia tristeza e temor.

Semear a luz da alfabetização num mundo desigual e cheia de trevas.

Êle não chegou à alegria da farta colheita, mas esse homem viveu e vive imenso número de vidas: é um pouco filho de cada mulher e um pouco pai de cada criança. Caminha por todas as estradas e em todos os sêres se sente viver, pela capacidade de amar o próximo e semear o bem. Pelas transformações que efectuou em pessoas e grupos.

Leônidas não morreu, porque vida como a sua, por mais curta que seja, não se distingue da imortalidade e seu dia é o infinito.

Ver-nos-emos em alguma curva do caminho quando direi: Você só nos deu um desgôsto: Partiu tão bruscamente, sem avisar nem nada! Isto não se faz.

Nota: Neste artigo aplicamos alguns conceitos de vida perfeita do pensador argentino Constancio Vigil.